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quinta-feira, 12 de maio de 2011

Minha vida, toda , era retrato
de uma alma devassada, vazia,
Fortaleza calçada em solo árido,
tórrido, insensato e triste.

Entre tantas sucumbências,
angústia e muito pranto,
Meu encontro contigo
trouxe alívio, acalanto e abrigo.

Em tom de canto,
que esse chão, ao se arar,
mostra-se pronto à transposição
de emoção qualquer que o faça renascer.

E meu peito assevera, como incumbência,
em restaurar a fissura que nele persiste.
Seja em monastério, convento ou sanatório,
Me interno para curar toda dor que em mim existe.


Yussef Salomão, 03-08-2008

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Eu te encontrei
na curva
que nunca houve,
do rio que jamais existiu,
mas que, na parede,
jorra
da fonte do pincel,
que te faz nascente.




Ao pintor Funchal Garcia


(Iano Salomão de Campos, 'Bissexto')
Um dia...
Hei de viver,
um dia,
totalmente feliz.
Mesmo que a alvorada
venha de clarins
e o Cruzeiro do Sul
deixe novamente a poesia
para incrustar-se nas armas.

Um dia...
Hei de ser,
um dia ,
totalmente livre;
livre até da liberdade concedida
por monges de faca sob os hábitos.

Um dia,
hei de viver
um dia,
totalmente!

(Iano Salomão de Campos, 'Bissexto')

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Hei de um dia
ousar minha voz,
torná-la asas
de um albatroz

e alçar-me ao infinito
na magnífica explosão
de um grito!

(Iano salomão de Campos, do livro "Bissexto")

Enfoque

Eu é que não sou
normal de querer
me deixar devorar
pela sanidade!

Agrada-me
a privacidade
que me concede
a discriminação.

Diverte-me
o medo
dos que me confinam
como se
a se protegerem
do meu igual
que carregam
no porão
de si próprios

Escondem-se
lá fora
do que eu
já não temo.
Fora e dentro,
questão de verniz,
por um triz!

Chego a pensar
que enlouquecer
é observar-se
do espelho
a estupidez
dos normais.
Eu, sou livre
para ser como quiser,
até mesmo...
Um louco!

Ah, sim,
as grades...
Isto depende
do enfoque!

(Iano Salomão de Campos,do livro "Bissexto")

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Milonga del corcho

Cuándo estoy solo
No hay solamente dolor.

¡Hay peligro!
Sin abrigo,
extraño a todos.

Tengo ganas de saltar
Por la ventana que me mira,
después de los tres corchos.

Mientras permanezco
Me quedo en Montserrat
Espero tu beso
Sea porteño,
o desde mas allá del mar.

¡Pero no tengo nada ... a nadie!
El insomnio me consume.

Hay más plata en Minas.
Hay más sentimiento en mi alma.
Regreso, con falta de aliento,
Llorando una milonga
que ya no me pertenece más.

(Yussef, Buenos Aires, 09/2010)

Autorretrato

Hipermetrope? Míope.
Hipertenso? Sedento!
Hipersensível? Síncope.
Hipocondríaco? Alento...

Hipoglicêmico? Faminto!
Hipóxico? Não fumo.
Hipossuficiente? Aluno.
Hipócrita? Fingido!

Hipoteca? Falido.
Hipérbato? Invertido.
Hipérbole? Heroico!
Hipopótamo? Zoomórfico!

Hipertireóide? Indiferente.
Hipertexto? Calígrafo.
Hipertérmico? Caliente!
Hipertrófico? Fígado.

...

E 'pô' no seu copo? E pergunta ainda?

(Yussef Salomão, Buenos Aires, 17 de agosto de 2010).

Ode à Sogra

Não se dobra nem se engana
Muito menos se profana
O sentimento pela sogra.

Se toda ideia malogra
Ou se o carinho é de esgana
Que se consagre minha sogra.

De arrebate ou de retumba
que meu canto não oprima;
Nunca mais farei macumba
e fugirei da prima rima.

Sob uma coça de babucha
ou num acesso de pelagra
Declaro a paixão que me agrada
De ter como sogra uma bruxa.

(Yussef Salomão, 28/04/2010)

sábado, 2 de outubro de 2010

Hei de viver o que me resta
sentado na janela da utopia


... e dormir o dia
... e velar a noite

a bordo de um relógio de sol

(Iano Salomão de Campos, do livro "Bissexto")
Com você eu quero
amanhecer o outro dia


beber da fonte a água
que não se bebe aqui

e repassar a vida
e trespassar a morte

(Iano Salomão de Campos, do livro "Bissexto")

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Teus sábios cabelos,
incontinenti,
disputavam o branco,
adivinhando o tempo
que te escoava.

Enquanto tu,
inocentemente,
os pintava.

(Iano Salomão e Campos, do livro "Bissexto")

domingo, 29 de agosto de 2010

Onde estará você
nesse azul celeste
que amanhece
este dia saudoso?

Que recado traz de você
essa passarela de sol
que escorre sobre nosso leito
de solitário travesseiro?

Que música nossa sugere
esse vento macio
que sussurra promessas
de reencontros astrais?

Que chuva é esta
que, num dia de sol,
me molha o rosto
e traz gosto de mar?

Onde estão os seus braços
se este aperto no peito
tem jeito de abraço
do medo de chuva?

Eu acho que é tarde,
pois a tarde já vai
pela rua triste e molhada,
como se arrastasse um espelho.

Entre o branco do dia
e o negro da noite,
o ocaso ou seus cabelos
se o perfume é mesmo?

Onde está seu sorriso
nesta boca de céu
que engole outro dia
de busca e paixão?

Onde estará no infinito
seu infinito olhar,
se tantas estrelas eu conto
mas nenhuma me fita?

Por que você não vem
com a madrugada, como eu vinha,
se ansiosa me esperava
como me desespero agora?

Sol , noite, espelho,
leito, tarde, dor,
chuva, sal, estrela;

nada é norte,
tudo é morte!


(Iano Salomão e Campos, do livro "Bissexto")
Perdoa se não fui forte
como exigia o momento
em que,
no embate com a morte,
fui mais frágil,
fui mais lento.

Perdoa não ser capaz
de milagre, ou de magia
que nos devolvesse a paz
e a tua vida, Maria.

............................................

Perdoa por não ter feito teus
os que então restavam dos meus dias.
Perdoa por não transformar-me em Deus
no momento trágico em que morrias!


(Iano Salomão de Campos, do livro "Bissexto")
Jamais!

Jamais imaginara
o peso de tal palavra.

Ausência total.
Nunca.
Em nenhuma hipótese.

Sem cura.
Sem esperança.
Sem volta.

Saudade dura,
eterna.

Passo maior que a vida.

(Iano Salomão de Campos, do livro "Bissexto")