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segunda-feira, 28 de junho de 2010

Depois da festa,
nada tinha a dizer,
só que o mundo acabou.

Completava trinta e oito
embora não fizesse um quatro.

Apontei minha idade
direto prá testa.

Girou a roleta,
girou a vida,
girou o acaso,
girou o tambor,
girou o ocaso
e o mundo acabou.
.................................

Hoje
é tanto tempo!
E ontem
eu já era velho.

...........................................
Já me acostumei a morrer!
O coração prega peças
de pragmatismo sádico.
Feito torturador, que,
repetidas vezes,
ordena
e, à última hora,
suspende
o fuzilamento.

Tiros no peito.
Tiros do peito.

Espera no paredão.
Espera na UTI.

Volta para a vida.
Volta para a luta.

A sobrevivência.
A ideologia.

O iminente fim
por um fim eminente.

O ditador imita o tempo:
exaure, anula, mas passa.

O coração dubla o relógio,
e pode ficar entre o tic e o tac.


(Iano Salomão de Campos, do livro "Bissexto")

sábado, 26 de junho de 2010

SAMBA DO DESCOMPASSO

Acaso ela não volte.......
não esqueça o tamborim.
Caso acordes desafinados,
num pretenso “cavaquim”!

Traga farta cerveja gelada.
Traga também um ombro amigo.
Traga toda a amargura.
Traga dor dum samba`guerrido.

Afine descompasso com sutileza.
Abrace a cerva sobre a mesa.
Assine o samba da tristeza.
Arraste o gingado sem destreza.

Atraía o som da melancolia.
Abstraia luxúria e fidalguia.
Extraia do cavaco nostalgia.
No solitário palco à boemia.

E quando o desalento tamborim,
subtrair toda a esperança.
E quando do pretenso fim,
não merecer última dança.
E quando o adeus do Querubim,
for a última lembrança.
Procure na incerteza da vida,
algo que a razão não alcança.

E se da porta escurecida,
desgastada do jazigo...
surgir de modo repentino,
formoso rosto conhecido...
Trazendo na bagagem da vida,
chama de amor antigo....
Que durante prematura infância,
fez juras de amor comigo!

Quem sabe o agonizante samba,
não acelere o tamborim.
Quem sabe o puxador,
não cante O Amor enfim.
Quem sabe a vistosa sambista,
não se engrace pra mim
Quem sabe o samba pulsante
Traga a vida, inusitado fim!!!!!

(Felipe Morais Barbosa)

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Vou me matar.
Vou me matar
por dois únicos motivos:
primeiro,
por ser ninguém;
segundo,
por ter direito;
eis que, só a quem
tem status de ninguém
é conferida a prerrogativa
de sair de cena
a seu bel-dever.

(Iano Salomão de Campos, do livro "Bissexto")

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Sem nome.

Solto da âncora,
das amarras do cais.

Navio fantasma
ao sabor da calmaria,
canhoneios de festim,
suicida na proa.

barco de guerra
sonhando naufrágio
e vitória do mar.


Sem nome.

(Iano Salomão de Campos, do livro "Bissexto")

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Hoje é domingo
e estou só.

Lá fora brilha a vida.
Os bares se enchem
e as garrafas se esvaziam.
Namorados se encontram
e se perdem em abraços.
Freneticamente se utilizam
de um dia não útil.

O domingo embriaga
e o calor abafa.

O homem sorri
o que chorou na semana.
Espera a missa das sete
e toma o porre das oito.
Lamenta o correr das horas
que se arrastam na semana.

Maldito operário do tempo
que só se esforça aos domingos!

No meu apartamento
o relógio boceja.
O brilho da vida
nem dá sinal de vida.

Porque estou só.

E não há domingo que resista
à solidão de um pessimista.

(Iano Salomão de Campos, do livro "Bissexto")

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Consequências do vinho

Vinho,

Doce suor de uma fruta,

Transforma cama em ninho.

Vinho,

Fazes da moça bruta

Mulher só de carinho

(Iriê Jr)

Encanto e realidade

“Thiago de Mello, 82 anos, o grande poeta brasileiro esqueceu num táxi, no Leblon, quinta passada, a carteira com documentos e dinheiro e, veja só, um poema inédito” Ancelmo Gois

Meu Deus! O poeta esqueceu o poema.

Virou notícia! “Poeta esquece inédito poema de amor, dentro do táxi”

Como pode poeta esquecer o leite das crianças, o beijo da mulher,

a palavra presente, deixar tudo em cima do banco. Quem tocará no poema?

Poderia ter perdido a cabeça, jamais, jamais, o coração.

Quem era a amada, que ficou esperando na janela a declamação de um verso?

A princesa de que reino deixou de receber flores e estrofes de um cavaleiro apaixonado?

Em que estava pensando quando seguiu o correr da vida, e desleixou-se de sua ventura.

Quem encontrar flores, lágrimas, borboletas, pássaros, princesas, dentro do táxi junto com um poema, devolva ao poeta. Devolva!

É caso de vida ou morte. Ou pior, é caso de amor.



Iriê Jr. 10 de junho de 2008

sábado, 12 de junho de 2010

O sábado prometia:
Sol de outono,
Dois jogos na TV,
Saldo checado,
Engradado no gelo,
Patroa cordata
(solfejo, tira-gosto)
Aposentadoria.
Burro na sombra.
Final, afinal!

Campainha.
Que susto!
Quem será?
Estréio sessenta...
a ceifadeira já?
O final?
Que anacrônico!

Ou seria:
Um cobrador? Não devo.
Carteiro? Em greve.
O vizinho? Mudou-se.
Um marido? Parei.
Praga rogada? Outra?
A vingança? Faz calor.
O castigo? Mereço.
O Jece Valadão? Nem tanto!
O azar? Esconjuro.
O Destino? Temo.
A vida? Navego.
O porto? Importa.
Aporta? Atendo.
Agora? Agora.

Ah, o amigo! Pelica!

(Iano Salomão de Campos)

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Canção

A Mão e a Luva (Yussef Salomão/ Iriê Jr)

Am7 Am7/G
Não, não adianta ser
Dm7
Somente a mão e a luva,
E7 Am7 Am7/G
Achar que o vento sempre faz a mesma curva,
Bm7 (5b) E7
É como num’água turva,
E7
Querer si ver


Am7 Am7/G
Não, não é só depender
Dm7
De soltar das correntes
E7 Am7
Sem o sol não vejo o céu à minha frente
Am7/G Bm7 (5b)
Nem sei se está frio ou se está quente,
E7 Am7/G A7
Vou me perder


Dm7 G7
Vou, vou buscar você
C7M
Longe de outro afeto
G/B F7M
E selando tudo num beijo concreto,
Bm7 (5b) E7
Vejo a lua acima do teto
A#° Am7 A7
Sem ter porquê
O papel em branco
me espera um verso.
Fujo ao olhar
das paralelas linhas.

Rebusco os confins
da memória farta,
mas nada aflora
que mereça a tinta.

O papel em branco,
zombeteiro, ri
um riso pálido
de retilíneos dentes.

Inspiração me falta
e o papel espreita
tocaiado ao longo
de precisa mira.

O papel em branco
me tortura e limita
prisioneiro atrás
de homogêneas grades.

O papel ainda em branco
já me duvida a arte
e num impulso o espedaço
com tortuosas garras.

(Poesia de Iano salomão de Campos, do livro "Bissexto")

poesia II

Sempre a busquei.
Nunca soube onde
Nem o porquê,
Já que não a sentia.

Mas essa sempre foi a minha intenção.
E você não queria,
Fingia não ver.
Talvez porque não me sabia.

Eu sempre quis você.

Agora que a tenho,
Me empenho no gosto
de fazer o quero,
apesar de seu gesto.

Que rebate meu sincero apelo
De poder mergulhar
Naquilo que trago,
Que toco ou que faço.

E, sem nenhum embaraço,
Digo a você que meu melhor momento
É aquele no qual me sinto
dono de mim mesmo.

Mesmo assim me calo, à sua mercê,
E me entrego, de joelhos,
Ao dizer, em confissão:
Só dormirei feliz se te amar
depois de fazer tudo o que quero!

(Yussef Salomão)

Rumo e prosa

Rabisquei em rimas abertas a torta letra do sofrimento.
Travei batalhas íntimas e incertas.
Espanquei minha felicidade,
pisoteada por qualquer um que cruzasse a avenida do lamento
....e fui à lona.

Mas, no último assalto, ainda cambaleante, me fortaleci,
mudei o rumo, mudei de prosa...

Privilegio agora o amor incondicional de minha dona,
A vida conjugal ao lado de minha amada,
buscando apenas a hora do beijo,
O sorriso perfeito, o cheiro e a rosa.

E quando menos se espera
Seguro-a em meus braços,
Abro as portas do aposento
Deito-a em nosso leito
e a amo de forma indeterminada.

(Yussef Salomão)

poesia

Desculpa o meu amar demais
que foi capaz, diversas vezes
fazer, como em seguidas viuvezes,
correr de teus olhos mananciais

que surgem de um passado doído,
nascente ressentida de outrora,
perdoado, mas não esquecido,
reconstruído pela mágoa do agora.

Nosso amor à tudo resistiu,
insistiu em sobreviver, sem pudor
em se mostrar forte frente ao vil,
ao abjeto e desprezível torpor

Asquerosa mania de culpar o passado...
esse construtor da memória
que insiste em fatos de glória,
mas se corrói com o que não foi anistiado.

Assim devo reaprender a te amar:
Preservando tudo em você que me agrada,
e sufocando o que me vilipendia
mesmo que de uma forma vadia
demover a concórdia adulterada.

(Yussef Salomão)